Pastoral da Custódia: «Oferecer o dom da comunhão» | Custodia Terrae Sanctae

Pastoral da Custódia: «Oferecer o dom da comunhão»

Nesses últimos anos, o site oficial da Custódia, na secção “Atualidades”, mostrou principalmente os Franciscanos da Terra Santa em suas atividades litúrgicas.
De hoje em diante, esperamos partilhar também suas atividades pastorais, realizadas à sombra dos santuários, bem como sua vida diária no coração da Custódia.

Quatro franciscanos, na esquina da St. Francis Street, na cidade velha Jerusalém, evidentemente esperam alguém. Seus olhos se iluminam ao ver que chegam duas pequenas figuras envoltas em sari azul e branco. As saudações são rápidas, mas calorosas, e as duas religiosas da Congregação das Missionárias da Caridade vão à frente desse curioso cortejo.
Fr. Michel Shawki, ao qual os passantes saúdam com um cordial «Marhabá, Abuna!» – Bom dia, Padre – as segue passo a passo. Desde agosto de 2013, ele é um dos três Vigários da Paróquia latina de S. Salvador e partilha com as Irmãs Missionárias da Caridade o serviço aos doentes. Cada mês, vão juntos levar a comunhão a, mais ou menos, cem pessoas doentes, idosas ou deficientes físicas, na cidade velha de Jerusalém.
Na casa canônica, a rápida olhada na lista das pessoas a serem visitadas pode causar vertigens. «Numerosas são as pessoas a sós, pois seus filhos partiram ao estrangeiro e perderam o direito de retornar à sua pátria. Recentemente, uma família cristã reencontrou-se após vinte anos!» explica Abuna Michel, que ouve histórias semelhantes frequentemente. E continua: «A Arquitetura de Jerusalém não favorece encontros, por causa dos degraus irregulares, impraticáveis a pessoas idosas ou em cadeira de rodas. Assim, as pessoas estão presas na própria casa!» Ao falar disso, sublinha o valor da Eucaristia: «Para quem crê, é importante sentir-se membro da comunidade. As pessoas que visitamos, acompanham a missa pela TV, mas não participam dela. A comunhão, que levamos, representa esse laço precioso entre a comunidade na qual foram batizados, cresceram, casaram e isso que é hoje… Mais do que um serviço, a comunhão é um dom oferecido a todos os cristãos em sua condição física e moral».
Para partilhar esse dom, com quem não pode mais ir à missa, os Frades organizaram-se com a ajuda das Missionárias da Caridade, que conhecem cada ângulo da cidade velha, cada família. Quando caminham pelas vielas, as crianças se aproximam e agarram suas mãos. São as Irmãs que planejam o circuito, são também elas que avisam os fiéis. Tal dedicação deixa os Frades cheios de admiração. Abuna Michel desejaria fazer mais e visitar mais vezes essas pessoas isoladas, mas o tempo lhe falta e teria necessidade de ajuda.
Agora, essa ajuda recebeu de sete seminaristas da Custódia. De fato, Fr. David, Fr. Agostinho, Fr. Matipanha, Fr. Antônio, Fr. Édson, Fr. Ulise e Fr. Israel, em rodízio, dão-lhe mão forte. Alguns participam pela primeira vez a esse serviço de fé e de amor fraterno, a convite de seu Mestre dos estudos.
Entre esses, Fr. Agostinho, originário de Moçambique, ordenado Diácono, em junho de 2013, fala do sentido de sua missão diaconal: «Ser Diácono é pôr-se à porta da igreja, é aceitar de ser enviado em missão na vida social, em sentido largo. Agrada-me a frase de S. Francisco, que diz ser nosso claustro o mundo.»
A Custódia da Terra Santa permite-lhe essa abertura na variedade de sua vida pastoral e paroquial. Ao aceitar o convite de consagrar parte de seu tempo de estudos à visita dos doentes, descobriu as realidades desta sociedade palestina cristã e aprendeu a criar laços de proximidade com os que creem. No seminário, «como Frades franciscanos, temos tanto a fazer e devo confessar que, às vezes, não vemos todas as necessidades que nos circundam», disse Fr. Agostinho. Graças a Deus, os sacerdotes de língua árabe acompanham diariamente os mais frágeis. «Eles são precioso apoio para nós seminaristas, estudantes de Teologia, que falamos apenas algumas palavras em árabe!».
Tudo foi previsto e pensado, como se pode ver no verso dessa folha, no qual estão transcritas em letras ocidentais as palavras e as orações em comum, recitadas em alta voz. Um tanto hesitantes nas primeiras visitas, nossos seminaristas, depois de algumas semanas, adquiriram confiança. «A barreira da língua é desculpa» afirma Fr. Agostinho. O rosto do jovem brilha quando descreve a vez em que Abuna Michel lhe pediu que o substituísse: «Disse “sim”, apenas “sim” e desliguei o telefone. Depois, me flagrei do que havia dito e me perguntei: mas, que língua falarei? Primeiramente, pensei usar Inglês. Depois, refletindo, decidi expressar-me em árabe. Dirijo-me a palestinos e o importante não é falar bem – eles sabem que não sou daqui – mas, oferecer-lhes um momento de oração, na língua deles!».
Fr. Agostinho, então, exercitou-se na fonética árabe com um dos confrades de língua árabe. «Na vida, alguém deve empurrar-te porque, a sós, criamos nossas barreiras. Muitas vezes, as pessoas têm confiança, enquanto tu mesmo não crês!» De fato, Fr. Agostinho não fez feio em suas primeiras palavras em árabe. E, se seu sotaque africano, às vezes, tenha feito sorrir os fiéis, ele seguiu com atenção o ritual, exatamente como o faz Padre Michel.
Nos apartamentos fechados, as religiosas batem à porta e chamam os fiéis pelo nome. Depois de trocar saudações, um pano branco bordado, um crucifixo e uma pequena vela são colocados numa pequena mesa. Aqui se respira tanta dignidade! Dignidade na aparência, dignidade nas saudações e também na Liturgia. Em cada apartamento, tornado por alguns minutos Casa do Senhor, Frades e Irmãs ajoelham-se e iniciam a celebração. O sacerdote prepara os fiéis para receberem a Eucaristia, neles há um vislumbre de esperança em sua solidão e na sua luta com a doença.
Vendo os sorrisos benévolos se desenhando nas faces das pessoas reunidas na penumbra deste apartamento, compreende-se o quanto a Eucaristia seja partilha e comunhão. Na soleira de uma das casas, Fr. Agostinho exprime sua intenção de continuar levando a comunhão aos doentes. «Antes de voltar a Moçambique, é preciso que eu transforme aquilo que tem sido, até hoje, algo excepcional em algo instintivo e que eu faça crescer em mim a necessidade do outro!».
Partilhando o mesmo pão, tornamo-nos unidos. Essa unidade supera, de muito, as portas da igreja. Ser uma só coisa com a população é o que fazem os franciscanos em Jerusalém, e também em Belém, em Beit Hanina, em Jafa, em Nazaré e em Jericó, onde estão diariamente presentes e isso há séculos.
Émilie Rey