Textos franciscanos | Custodiae Terrae Sanctae

Textos franciscanos

 

Nesta seção você encontrará alguns textos franciscanos, textos importantes que podem ajudá-lo a entender melhor a vida de São Francisco e sua ordem, eles também evocarão a espiritualidade especial que os Frades experimentam todos os dias na Terra Santa.

Fontes Franciscanas

É através de uma série de textos literários, escritos por pessoas que o conheceram pessoalmente, que conhecemos a vida de São Francisco.
Em vez de simplesmente referências históricas, devemos considerá-las como "pedras vivas" que formam o quadro dentro do qual um grande movimento religioso tem seguido os preceitos e exemplos de seu Mestre.

Você pode encontrar aqui alguns dos textos!

Regra bulada (LR 2,1-3.5-6: FAED I, 100)

1 Aqueles que quiserem seguir esta vida e vão ter com os nossos irmãos, mandem-nos estes a seus ministros provinciais, aos quais somente e não a outrem, se conceda licença de receberem irmãos.
2 0s ministros, porém, os examinem diligentemente sobre a fé católica e os sacramentos da Igreja.
3 E se crerem todas estas coisas e as quiserem professar com fidelidade e observar com firmeza, até o fim;
4 e se não forem casados, ou, se o forem, as mulheres já tiverem entrado em convento, ou, feito o voto de continência, lhes tiverem dado licença, com autorização do bispo diocesano, e se elas forem de tal idade que não torne o seu consentimento suspeito;
5 a eles digam os ministros a palavra do santo Evangelho (cf. Mt 19,21), que vão e vendam tudo o que possuem, e tratem de distribuir entre os pobres;
6 mas, se o não puderem, basta-lhes a boa vontade.

Testamento (Test 14-23: FAED I, 125-126)

E depois que o Senhor me deu Irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia Viver segundo a forma do santo Evangelho.
15 E eu o fiz escrever com poucas palavras e de modo simples e o Senhor Papa mo confirmou.
16 E os que vinham para abraçar este gênero de vida distribuíam aos pobres o que acaso possuíam. E eles se contentavam com uma só túnica remendada por dentro e por fora, com um cíngulo e as calças.
17 E mais não queríamos ter.
18 Nós clérigos recitávamos o ofício divino como os demais clérigos; os leigos diziam os pai-nossos. E gostávamos muito de estar nas igrejas.
19 Éramos iletrados e nos sujeitávamos a todos. E eu trabalhava com as minhas mãos e quero trabalhar.
20 E quero firmemente que todos os outros irmãos se ocupem num trabalho honesto.
21 E os que não souberem trabalhar o aprendam, não por interesse de receber o salário do trabalho mas por causa do bom exemplo e para afastar a ociosidade.
22 E se acaso não nos pagarem pelo trabalho vamos recorrer à mesa do Senhor e pedir esmola de porta em porta.
23 Como saudação, revelou-me o Senhor que disséssemos: "O Senhor te dê a paz".

Primeira Vida - Tomás de Celano (1C 6-7: FF 329-330)

Tinha predileção por um jovem de Assis, porque era de sua idade e uma amizade plenamente compartilhada permitia contar-lhe seus segredos. Levava-o muitas vezes a lugares afastados e aptos para os seus planos, garantindo que tinha encontrado um tesouro precioso e enorme. 
5 Alegre e curioso e curioso pelo que ouvira, o amigo ia de boa vontade com ele todas as vezes que era chamado. 
6 Havia uma cripta perto da cidade, à qual iam com freqüência para falar do tesouro. 
7 O homem de Deus, já santificado pelo desejo de ser santo, entrava na cripta enquanto o companheiro ficava esperando do lado de fora e, tomado pelo novo e singular espírito, orava ao Pai na solidão. 
8 Esforçava-se para que ninguém soubesse o que fazia lá dentro, para que o segredo fosse causa de maior bem, e buscava só a Deus em seu santo propósito. 
9 Orava com devoção para que Deus eterno e verdadeiro dirigisse seu caminho e o ensinasse a cumprir sua vontade. 
10 Sustentava em sua alma uma luta violenta e não conseguia parar enquanto não realizasse o que tinha resolvido em seu coração. Pensamentos muito variados entrecruzavam-se nele, importunando-o e perturbando-o duramente. 
11 Ardia interiormente pela chama divina e não conseguia esconder o fervor de sua alma. Doía-lhe ter pecado tão gravemente e ofendido os olhos da majestade de Deus. As vaidades do passado ou do presente já não o agradavam, mas ainda não recebera plenamente a confiança de poder resistir-lhes no futuro. 
12 Por isso, quando voltava para junto do companheiro, estava tão cansado que nem parecia o mesmo que tinha entrado.

Segunda Vida - Tomás de Celano  (2C 6: FAED II, 245)

1 De fato, pouco depois, teve a visão de um esplêndido palácio, em que encontrou toda sorte de armas e uma noiva belíssima. 
2 No sonho, foi chamado pelo nome de Francisco e seduzido pela promessa de possuir todas aquelas coisas. 
3 Tentou, por isso, ir à Apúlia para entrar no exército e, tendo preparado com muita largueza tudo que era preciso, apressou-se para receber o grau da honra militar. 
4 Seu espírito carnal sugeria-lhe uma interpretação carnal da visão que tivera, quando nos tesouros da sabedoria de Deus ocultava-se algo muito mais preclaro. 
5 Foi assim que, uma noite, estando a dormir, alguém lhe falou pela segunda vez em sonhos, interessado em saber para onde estava indo. 
6 Contou-lhe seus planos e disse que ia combater na Apúlia, mas foi solicitamente interrogado por ele: - “Quem lhe pode ser mais útil: o senhor ou o servo?” - “O senhor”, respondeu Francisco. 
7 E ele: “Então, por que preferes o servo ao senhor?” - “Que queres que eu faça, Senhor (cfr. At 9,6)?” perguntou Francisco. 
8 E o Senhor: - “Volta para a terra em que nasceste (cfr. Gn 32,9), porque é espiritualmente que vou fazer cumprir a visão que tivestes”. 
9 Voltou imediatamente, já feito exemplo de obediência e, deixando de lado a própria vontade, passou de Saulo a Paulo. 
10 Paulo foi derrubado e os duros castigos produziram palavras doces; Francisco trocou as armas materiais pelas espirituais, e recebeu o comando de Deus no lugar da glória militar. 
11 Aos muitos que se admiravam de sua invulgar alegria, dizia que haveria de ser um grande príncipe.

Legenda dos Três Companheiros (L3C 7: FAED II, 71-72)

1 Não muitos dias depois que voltou a Assis, certa noite foi escolhido como senhor pelos seus companheiros para fazer as despesas conforme a sua vontade. 
2 Então mandou preparar um suntuoso banquete, como já tinha feito muitas vezes. 
3 Após a refeição saíram de casa. Os companheiros iam juntos na frente cantando pela cidade, e ele ia um pouco atrás, levando um bastão como senhor, não cantando mas meditando diligentemente. 
4 Eis que, de repente, foi visitado pelo Senhor, e seu coração ficou repleto de tanta doçura, que não podia nem falar, nem se mexer, e era incapaz de sentir ou de ouvir outra coisa, a não ser aquela doçura que de tal modo o alienara do sentido carnal, que, como ele mesmo disse depois, mesmo se naquele momento fosse cortado em pedaços, não poderia mover-se daquele lugar. 
5 Quando os companheiros olharam para trás e o viram tão longe deles, voltaram e, aterrorizados, viram-no como que mudado em um outro homem. 
6 E perguntaram-lhe: “Em que pensaste que não vieste conosco? Será que pensaste em te casar?" 
7 Respondeu-lhes com viva voz: “Dissestes a verdade, eu estava pensando em receber a esposa mais nobre, mais rica e mais bela que jamais vistes”. 
8 Zombaram dele. Mas ele disse isso não por si mesmo e sim inspirado por Deus; pois essa esposa era a verdadeira religião que abraçou, mais, nobre, mais rica e mais bela que as outras pela pobreza.

Legend of the Three Companions (L3C 11: FAED II, 74)

1 Certo dia, estando a orar com mais fervor, foi-lhe respondido: - “Francisco, se quiseres conhecer a minha vontade, deverás desprezar e odiar tudo o que carnalmente amaste e desejaste possuir. 
2 Depois que começares a fazer assim, as coisas que antes te pareciam suaves e doces serão para ti insuportáveis e amargas, mas das que te causavam horror, poderás haurir uma grande doçura e uma suavidade imensa”. 
3 Contente com isso e confortado no Senhor, certa vez indo a cavalo perto de Assis, veio-lhe ao encontro um leproso. 
4 E como se acostumara a ter muito horror aos leprosos, fez violência a si mesmo , desceu do cavalo e lhe deu uma moeda, beijando-lhe a mão. 
5 Após ter recebido dele o beijo da paz, montou a cavalo e prosseguiu seu caminho. 
6 Desde então começou a desprezar cada vez mais a si mesmo, até conseguir, pela graça de Deus, a mais perfeita vitória sobre si mesmo. 
7 Poucos dias depois, levando muito dinheiro, transferiu-se para o leprosário, e, juntando todos, deu a cada um uma esmola, beijando-lhes a mão. 
8 Quando foi embora, verdadeiramente o que lhe era amargo, isto é, ver e tocar os leprosos, convertera-se em doçura. 
9 Tanto que, como contou, para ele fora amarga a visão dos leprosos, de modo que não só não os podia ver, mas se aproximar de suas casas. 
10 e, se por alguma vez acontecesse de passar perto de suas casas ou de vê-los, virava o rosto e tapava o nariz com as mãos, muito embora, movido por piedade, lhes mandasse esmolas por intermédio de outra pessoa. 
11 Mas, por graça de Deus, tornou-se tão familiar e amigo dos leprosos, que, como ele mesmo afirma no Testamento, ficava entre eles e humildemente os servia.

Segunda Vida - Tomás de Celano (2C 10: FAED II, 249)

Já inteiramente mudado de coração, e a ponto de mudar no corpo, passou um dia pela igreja de São Damião, que estava abandonada por todos e quase em ruínas. 
2 Levado pelo Espírito, entrou para rezar e se ajoelhou suplicante e devoto diante do crucifixo. Tocado por uma sensação insólita, sentiu-se todo transformado. 
3 Pouco depois, coisa inaudita desde séculos, a imagem do Crucificado, abrindo os lábios da pintura, falou com ele. 
4 Chamando-o pelo nome, disse: “Francisco, vai e repara minha casa que, como vês, está se destruindo toda”. 
5 A tremer, Francisco espantou-se não pouco e ficou fora de si com o que ouviu. 
6 Tratou de obedecer e se entregou todo à obra. 
7 Mas, como nem ele mesmo conseguiu exprimir a sensação inefável que teve, também nós temos que nos calar. 
8 Sua santa alma foi tomada desde então de compaixão pelo Crucificado e, como podemos julgar piedosamente, os estigmas da paixão ficaram profundamente gravados nele desde esse dia: no corpo ainda não, mas sim no coração.

Legenda dos Três Companheiros (L3C 19-20: FAED II, 79-80)

1 Depois correu ao palácio da comuna queixando-se do filho diante dos cônsules da cidade, e pedindo que o obrigassem a restituir o dinheiro que levara, espoliando a casa. 
2 Os cônsules, vendo-o tão perturbado, por meio de mensageiro, intimam ou convocam Francisco a comparecer diante deles. 
3 Ele, respondendo ao mensageiro, disse que pela graça de Deus já tinha sido libertado e não se submetia mais aos cônsules, porque só era servo do Deus Altíssimo. 
4 Os cônsules, por sua vez, não querendo forçá-lo, disseram ao pai: “Desde que se pôs ao serviço de Deus, subtraiu-se ao nosso poder”. 
5 Vendo o pai que nada conseguia junto aos cônsules, propôs a mesma reclamação diante do bispo da cidade. 
6 O bispo, porém, discreto e sábio, chamou-o o modo devido para comparecer a fim de responder à demanda do pai. 
7 Ele respondeu ao enviado: “Ao Senhor Bispo irei, porque ele é pai e senhor das almas”. 
8 Foi, então, ao bispo, que o recebeu com grande alegria. 
9 E o bispo disse: “Teu pai está muito irritado e escandalizado contigo. 
10 Por isso, se queres servir a Deus, devolve-lhe o dinheiro que tens. O qual, como provém provavelmente de bens injustamente adquiridos, Deus não quer que o empregues em obras da igreja, por causa dos pecados de teu pai, cujo furor vai se acalmar quando o receber. 
11 Tem pois, filho, confiança no Senhor, e comporta-te varonilmente; não tenhas medo porque Ele será o teu auxílio e para as obras de sua igreja dar-te-á abundantemente o que for necessário”.

20. 
1 O homem de Deus levantou-se alegre e confortado pelas palavras do bispo e, apresentando-lhe o dinheiro, disse: “Senhor, quero devolver-lhe com alegria não somente o dinheiro que lhe pertence, mas também as roupas”. 
2 Entrando na sala do bispo, tirou todas as suas roupas e, colocando o dinheiro em cima delas, diante do bispo, do pai e dos outros presentes, saiu nu 
3 e disse: “Ouvi todos e entendei: até agora chamei de pai a Pedro de Bernardone, mas, como me propus servir a Deus, devolvo-lhe o dinheiro, pelo qual estava perturbado, e todas as roupas, que dele recebi de suas coisas, pois agora quero dizer: Pai nosso que estás nos céus, e não pai Pedro de Bernardone”. 
4 Viu-se então que o servo de Deus tinha um cilício junto à carne, por baixo das roupas coloridas. 
5 O pai levantou-se, extremamente magoado e enfurecido, e recebeu o dinheiro e todas as vestes. 
6 Enquanto as levava para casa, os que tinham assistido à cena indignaram-se contra ele, por não ter deixado ao filho nada de suas roupas. 
7 Mas, movidos de compaixão começaram a chorar fortemente por Francisco. 
8 O bispo, porém, dando diligente atenção ao ânimo do homem de Deus e admirando muito seu fervor e constância, acolheu-o entre seus braços, cobrindo-o com seu manto. 
9 Pois percebia abertamente que os seus gestos provinham de um conselho divino e reconhecia que o que vira continha um mistério não pequeno. 
10 Assim, desde então fez-se um auxiliador dele, exortando-o e animando-o, dirigindo-o e abraçando-o nas entranhas da caridade.

Segunda Vida (2C 15: FAED II, 253-254)

15 
1 Um certo Bernardo, da cidade de Assis, que depois foi filho da perfeição, desejando, a exemplo do homem de Deus, desprezar completamente o século, foi pedir suplicante seu conselho, 
2 Por isso, consultou-o dizendo: - “Pai, se alguém tivesse possuído por muito tempo os bens de algum senhor, e já não quisesse mais retê-los, qual seria a coisa mais perfeita a fazer?” 
3 O homem de Deus respondeu que deveria devolver tudo ao senhor de quem recebera 
4 Então Bernardo disse: - “Sei que tudo que tenho me foi dado por Deus. Estou resolvido a dar tudo de volta, de acordo com o teu conselho”. 
5 Respondeu o santo: “Se queres provar o que dizes, vamos bem cedo à igreja e, pegando o Evangelho, peçamos conselho a Cristo”. 
6 Por isso entraram na igreja quando amanheceu, rezaram primeiro com devoção e depois abriram o Evangelho, dispostos a fazer a primeira proposta que ocorresse. 
7 Abriram o livro e Cristo mostrou seu conselho: “Se queres ser perfeito, vai e vende tudo que tens, e dá-o aos pobres”. 
8 Repetem uma segunda vez e apareceu: “Não leveis nada pelo caminho”. 
9 Acrescenta uma terceira vez e encontram: “Quem quer vir após mim, renuncie a si mesmo”. 
10 Bernardo não perdeu tempo para cumprir tudo isso e não deixou de observar uma vírgula do conselho recebido. 
11 Em pouco tempo, foram muitos os que se converteram dos corrosivos cuidados do mundo e, guiados por Francisco para o bem infinito, voltaram para a pátria. 
12 Seria longo contar como cada um deles conquistou o galardão da vocação suprema.

Legenda dos Três Companheiros (L3C 30-31: FAED II, 86-87)

30. 
1 Enquanto o Senhor Bernardo distribuía os seus bens aos pobres, como ficou dito, estava presente o bem-aventurado Francisco, observando a virtuosa obra do Senhor, e dando-lhe glória e louvor em seu coração. 
2 Chegou então um certo sacerdote chamado Silvestre, de quem o bem-aventurado Francisco havia comprado pedras para a reparação da Igreja de São Damião, e vendo todo aquele dinheiro sendo gasto por conselho do homem de Deus, aceso no fogo da cobiça, disse-lhe: - “Francisco, não me pagaste bem pelas pedras que me compraste”. 
3 Ouvindo o desprezador da avareza como ele murmurava injustamente, aproximou-se do Senhor Bernardo, e colocando a mão dentro de seu manto, onde estava o dinheiro, com grande fervor de espírito, tirou-a cheia de moedas e deu-as ao presbítero queixoso. 
4 E enchendo outra vez a mão de moedas, perguntou-lhe: “Estás bem pago agora, senhor sacerdote?” Este respondeu: “Plenamente, irmão”. 
5 E alegre voltou à sua casa com o dinheiro assim recebido.

31. 
1 Poucos dias depois, o mesmo sacerdote, inspirado por Deus, começou a pensar sobre o que o bem-aventurado Francisco tinha feito e dizia consigo mesmo: "Não sou eu um homem miserável que, sendo velho, cobiço e procuro as coisas deste mundo, enquanto este jovem, por amor de Deus, os despreza e aborrece?"
2 Na noite seguinte viu, em sonho, uma cruz imensa, cuja ponta tocava os céus, o pé estava fincado na boca de Francisco e os braços estendiam-se de uma parte a outra do mundo. 
3 Ao despertar, o sacerdote reconheceu e creu firmemente que Francisco era verdadeiramente amigo e servo de Cristo e a religião que ele havia fundado logo se espalharia pelo mundo inteiro. 
4 Assim, começou a temer a Deus e a fazer penitência em sua casa. 
5 Enfim, depois de pouco tempo, entrou na Ordem já iniciada, na qual viveu otimamente e morreu gloriosamente.

Legenda de Santa Clara Virgem (LCl 7-8: CAED 285-286)

7 Bem depressa, para que o pó do mundo não pudesse mais empanar o espelho daquela alma límpida e o contágio da vida secular não fermentasse o ázimo de sua idade, o piedoso pai tratou de retirar Clara do século tenebroso. 
Aproximava-se a solenidade de Ramos, quando a jovem, de fervoroso coração, foi ter com o homem de Deus, para saber o que e como devia fazer para mudar de vida. Ordenou-lhe o pai Francisco que, no dia da festa, bem vestida e elegante, fosse receber a palma no meio da multidão e que, de noite,deixando o acampamento (cfr. Hb 13,13), trocasse o gozo mundano pelo luto da paixão do Senhor. 
Quando chegou o Domingo, a jovem entrou na igreja com os outros, brilhando em festa no grupo das senhoras. Aconteceu um oportuno presságio: os outros se apressaram a ir pegar os ramos, mas Clara ficou parada em seu lugar por recato, e o pontífice desceu os degraus, aproximou-se dela e lhe colocou a palma nas mãos. 
De noite, dispondo-se a cumprir a ordem do santo, empreendeu a ansiada fuga em discreta companhia. Não querendo sair pela porta habitual, com as próprias mãos abriu outra, obstruída por pesados troncos e pedras, com uma força que lhe pareceu extraordinária.

8 E assim, abandonando o lar, a cidade e os familiares, correu a Santa Maria da Porciúncula, onde os frades, que diante do altar de Deus faziam uma santa vigília, receberam com tochas a virgem Clara. Nesse lugar, livrou-se logo da sujeira da Babilônia e deu ao mundo o libelo de repúdio (cfr. Mt 5,31; Dt 24,1): com os cabelos cortados pela mão dos frades, abandonou seus ornatos variados. 
Nem convinha que, naquele ocaso dos tempos, fosse fundada em outro lugar a Ordem da florescente virgindade a não ser na casa da que foi a única mãe e virgem, antes e acima de todos. Era o lugar em que a nova milícia dos pobres dava seus felizes primeiros passos sob o comando de Francisco, para ficar claro que em sua casa a Mãe da misericórdia dava à luz as duas Ordens. 
Depois que a humilde serva recebeu as insígnias da santa penitência junto ao altar da bem-aventurada Maria, como se desposasse Cristo junto ao leito da Virgem, São Francisco levou-a logo para a igreja de São Paulo, para que ficasse lá até que o Altíssimo dispusesse outra coisa.

Orações franciscanas

Nesta seção você encontrará algumas das mais belas orações franciscanas.

Estas orações vão abrir o seu coração e mente, como fizeram para você, revelando a simplicidade e profundidade de Francisco e seus amigos ...

O glorioso Deus altíssimo,
iluminai as trevas do meu coração,
concedei-me uma fé verdadeira,
uma esperança firme e um amor perfeito.
Dai-me! Senhor, o reto sentir e conhecer,
a fim de que possa cumprir
o sagrado encargo
que na verdade acabais de dar-me.
Amém.

Vós sois o santo,  Senhor Deus único, que fazeis maravilhas.
Vós sois o Forte, Vós sois Grande, Vós sois o Altíssimo, Vós sois o Rei onipotente, vós, ó Pai santo, o Rei do céu e da terra.
Vós sois o Trino e Uno, Senhor  Deus dos deuses, vós sois o Bem, todo o bem, o sumo bem, Senhor Deus vivo e verdadeiro.
Vós sois amor, caridade; vois sois a Sabedoria, vós sois a Humildade; vós sois a Paciência, vós sois beleza, vós sois mansidão, vós sois segurança, vós sois quietude, vós sois regozijo, vós sois esperança e alegria, vós sois justiça, vós sois temperança, vós sois toda nossa riqueza até à saciedade.
Vós sois beleza, vós sois mansidão, vós sois protetor, vós sois guarda e defensor nosso; vós sois fortaleza, vós sois refrigério.
Vós sois nossa esperança, vós sois nossa fé, vós sois nossa caridade, vós sois toda a nossa doçura, vós sois nossa vida eterna: grande e admirável Senhor, Deus onipotente, misericordioso Salvador.

Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
teus são o louvor, a glória e a honra e toda a bênção.
Somente a ti, ó Altíssimo, eles convém,
e homem algum é digno de mencionar-te.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o Senhor Irmão Sol,
o qual é dia, e por ele nos iluminas.
E ele é belo e radiante com grande esplendor,
de ti, Altíssimo, traz o significado.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas,
no céu as formaste claras e preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e todo o tempo,
pelo qual às tuas criaturas dás sustento.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água,
que é mui útil e humilde e preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo
pelo qual iluminas a noite,
e ele é belo e agradável e robusto e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa,  a mãe terra
que nos sustenta e governa
e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas.

Louvado sejas, meu Senhor, por que perdoam pelo teu amor,
E suportam enfermidade e tribulação.

Bem aventurados aqueles que as suportarem em paz,
porque por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a morte corporal,
da qual nenhum homem vivente pode escapar.

Ai daqueles  que morrerem em pecado mortal:
bem-aventurados os que ela encontrar na tua santíssima vontade,
porque a morte segunda não lhes fará mal!

Louvai e bendizei ao meu Senhor,
e rendei-lhe graças e servi-o com grande humildade.

Ave,  rainha sabedoria,
o Senhor te salve com tua Irmã, a santa e pura simplicidade!
Senhora santa pobreza,
o Senhor te salve com tua Irmã, a santa humildade!
Senhora santa caridade,
o Senhor te salve com a tua Irmã, a santa obediência!
Santíssimas virtudes todas,
salve-vos o Senhor de quem vindes e procedeis!

Não há absolutamente em todo o mundo nenhum homem que possa ter uma de vós se antes não morrer.
Aquele que tem uma e não ofende as outras tem todas. E aquele que ofende uma não tem nenhuma e a todas ofende. E cada uma delas confunde os vícios e pecados.

A santa sabedoria confunde a satanás e todas as suas malícias. A pura e santa simplicidade confunde toda a sabedoria deste mundo e a sabedoria da carne. A santa  pobreza confunde a ganância e a avareza e os cuidados deste mundo. A santa humildade confunde a soberba e todos os homens que há no mundo e igualmente todas as coisas que há no mundo.

A santa caridade confunde todas as tentações diabólicas e carnais e todos os temores da carne. A santa obediência confunde todas as vontades próprias, corporais e carnais, e mantém o corpo mortificado para a obediência ao espírito e ao seu irmão e torna o homem súdito e submisso a todos os homens que há no mundo, e não somente aos homens, mas também  a todos os animais e feras, para que possam fazer dele o que quiserem, tanto quanto lhes for permitido do alto pelo Senhor.