Através dos vitrais da Custódia | Custodia Terrae Sanctae

Através dos vitrais da Custódia

Neste ano, pela segunda vez, Calógero e Vincenzo Zuppardo são vistos medindo corredores e igrejas da Custódia. Pai e filho, artesãos vidraceiros sicilianos, do atelier de artes www.opificiodellearti.com, começaram inventariar todos os vitrais da Custódia. Alguns nunca tiveram manutenção, outros foram consertados às pressas. «O inventário ajudará a individuar melhor que restaurações são necessárias» explica Ettore Soranzo, responsável pelo “Ufficio técnico” da Custódia.
Tendo em mãos máquina fotográfica, vara e computador portátil, Calógero e Vincenzo iniciaram fotografando os vitrais pouco acessíveis por se encontrar no alto. Para fazê-lo não foram necessários andaimes. Fixaram a máquina fotográfica numa vara para que as fotos tivessem a qualidade suficiente a fim de detectar problemas. Um giro sobre o teto possibilitou completar o exame. «De dentro se vê melhor o vidro, enquanto de fora vê-se melhor a estrutura do chumbo e as molduras» explica Vincenzo. As fotos dos vitrais da igreja de S. Salvador, em Jerusalém, mostram alguns pontos sobre a pintura. «Até agora não sabemos o que seja e qual sua causa. Mas, seguiremos com atenção a evolução nos próximos anos, para saber como intervir.»
Os artesãos preparam um dossiê completo sobre a igreja: data da construção, clima, exposição, estado em que se encontra cada vitral. Indicam também os elementos a observar e a necessidade de restauração urgente. Os problemas encontrados podem estar ligados a quatro elementos, a saber, pintura, vidro, chumbo e moldura. Protegidos no lado interno, o clima pode ter influência sobre a conservação dos vitrais. Assim a igreja de Jafa, na orla marítima, sofre com o vento e o sal, que prejudicam o vidro. A luminosidade de uma exposição em pleno sol altera o chumbo mais rapidamente.
A maior parte dos vitrais das igrejas da Custódia foi instalada entre 1850 e 1950. A limitada acessibilidade e ausência de artesãos competentes foram causas de danos nos vitrais. Alguns consertos, feitos às pressas, danificaram ainda mais os vitrais. «Os vitrais mais antigos são de qualidade melhor do que os mais recentes» explica Calógero. « Isso se nota nas aparas e mostra a evolução até nossos tempos. Antes, os artesãos trabalhavam para Deus, nos mínimos detalhes, a fim de que suas obras fizessem homenagem a Ele, Com a secularização da sociedade europeia, os homens trabalham para serem vistos pelos outros. Porque os vitrais foram colocados no alto, poucas pessoas os veem de perto e isso permite uma obra pouco precisa. Isso se percebe quando é preciso restaurá-la! »
Vincenzo e Calógero já examinaram a metade das trinta igrejas em Israel e Palestina. Ainda falta examinar a outra metade. Neste ano, estiveram duas vezes na Custódia. Sempre por uns quinze dias. No próximo ano voltam, de novo, por quinze dias. «Daqui a um ano, no máximo daqui a dois anos, acabaremos o inventário. Então saberemos quais trabalhos são os mais urgentes e necessários! » concluiu.

Um vitral famosoo

Os vitrais trazem luz para a igreja e, com seus desenhos ou por sua história, testemunham a vida dos santuários da Custódia. Assim, os vitrais de Emaus El Qubeibeh contam o Evangelho de Lucas 24. Em Belém, o grande vitral central da igreja de Santa Catarina foi oferta da Bélgica, em 1926. Representa o nascimento de Jesus e tem o brasão do Reino Belga e também a medalha do Cardeal Mercier, importante figura belga, falecida naquele ano. Essa obra testemunha os laços históricos e religiosos desse país com a Terra Santa e a Custódia. Restaurado em 2004 por vidraceiros de Gand, recebeu o prêmio do patrimônio belga, no exterior, em novembro de 2015, conferido pelo Ministério do Exterior da Bélgica, e pela Fundação do Rei Balduino. Esse prêmio coroa e encoraja as iniciativas de conservação do patrimônio belga no exterior. Com as Festas do Natal, que se aproximam, todos poderão admirar os vitrais durante a tradicional missa da meia-noite e apreciá-lo como auxílio na oração e na compreensão do Mistério da Encarnação.

Hélène Morlet