Restaurações do Santo Sepulcro: prosseguem os estudos do Comitê Científico | Custodia Terrae Sanctae

Restaurações do Santo Sepulcro: prosseguem os estudos do Comitê Científico

Collecting data in the Basilica of the Holy Sepulchre,  September 2021
Collecting data in the Basilica of the Holy Sepulchre, September 2021

Apesar das dificuldades por causa da pandemia de Covid-19, prosseguem os trabalhos de restauração no Santo Sepulcro, fruto do histórico acordo entre as três comunidades cristãs (grego-ortodoxa, católica e armênia), que moram na “igreja da Ressurreição”. Na segunda-feira, no dia 27 de setembro, no convento S. Salvador, em Jerusalém, o Comitê Técnico Científico, encarregado pelos trabalhos, apresentou aos chefes das três Igrejas o andamento dos estudos sobre a possibilidade e os tempos previstos para o restauro da Basílica. Chegados da Itália, pela primeira vez desde março 2020, após longo período imposto pelas restrições sanitárias, esses peritos trabalham em diversas instituições: a Fundação Centro para a Conservação e a Restauração dos Bens Culturais “La Venaria Reale” de Torino (CCR), o Departamento das Ciências de Antiguidade da Universidade “La Sapienza” de Roma e o Politécnico de Milão. 

Após a primeira fase das restaurações, concluída em 2017, na qual a Sagrada Edícula, que contém o sepulcro vazio de Cristo, foi levada ao seu esplendor original, em dezembro de 2019, o novo comitê científico interdisciplinar havia anunciado, em Jerusalém, uma segunda fase de restaurações, a respeito do pavimento da Basílica. Depois de pouco mais de dois meses, porém, a pandemia do Covid-19 havia chegado para embaralhar os planos, com o fechamento das fronteiras e o lockdown em todo o mundo, que havia impedido o movimento dos estudiosos. Apesar disso, o grupo de peritos se empenhou à distância a fim de levar avante os estudos preliminares para a realização das restaurações.

“Temos trabalhado nesses dois anos de pandemia, apesar das dificuldades – afirmou Stefano Trucco, Diretor da intervenção e arquiteto supervisor -. Queríamos retornar a Jerusalém a fim de demonstrar que nos interessava muito esse projeto e queríamos agradecer às comunidades cristãs, que confiaram em nós. No trabalho à distância, tivemos uma grande ajuda dos três Arquitetos que, aqui em Jerusalém, representam as três comunidades cristãs do Santo Sepulcro. Na basílica criou-se um belo clima de ajuda recíproca entre nós e os membros das comunidades que ali moram”. 

“Neste momento, estamos na fase do estudo da factibilidade – explicou a vice-Diretora da intervenção, Michela Cardinali -. Arquitetos, Engenheiros, Peritos, Pesquisadores trabalharam em diferentes frentes, de maneira multidisciplinar para responder às exigências postas pela comunidade: a estabilidade da Edícula, a implementação das instalações, o tema da restauração de todo o pavimento, considerando que há interesse de realizar escavações e estudos arqueológicos em toda a superfície do piso. Esse último tema complexo foi aprofundado através de estudos diagnósticos, estudos da documentação existente e, depois, começamos propondo soluções às comunidades, que deverão ser validadas e aprofundadas no projeto executivo”.

A Professora Francesca Romana Stasolla, chefe do grupo de trabalho das pesquisas arqueológicas, ligadas aos trabalhos de restauração, explicou como se decidiu proceder: “Antes de iniciar toda a forma de atividade arqueológica na igreja, achamos necessário recolher todos os dados – editados e inéditos – úteis para reconstruir os eventos na mesma igreja, de maneira a tornar significativo todo achado durante as escavações. Decidimos criar uma data-base, a fim de integrar os elementos de fontes escritas, fontes arqueológicas, fotográficas e cartográficas”. 

Os estudos preliminares, que o grupo de trabalho está levando avante, apontam a não ser invasivos e sobretudo não dificultar as atividades diárias, que se realizam no Santo Sepulcro, a saber, as celebrações das três comunidades cristãs, o livre movimento dos monges que residem ali e o acesso dos peregrinos. Para isso, a Basílica foi dividida idealmente em dez zonas, e existirão, depois, três áreas-de-trabalho. Para compreender as condições com as quais empatar o pavimento, neste meio tempo, foi instalado um sistema de monitoramento da condição climática atual da Basílica do Santo Sepulcro. Segundo o que foi comunicado pelo comitê científico, em 26 meses, é previsto o término dos trabalhos de restauração, mesmo que sejam estudadas novas soluções que poderiam encurtar os tempos da intervenção.

Nesta fase, será dada atenção especial ao estudo dos materiais, declarou a Coordenadora do projeto, Paola Croveri: “Queremos preservar, o quanto for possível, os materiais existentes na Basílica. Estas pedras viram milhões de peregrinos, são um testemunho do passado e destes dois mil anos. Queremos, porém, também dar unidade a estas pedras, tornando-as mais acessíveis. Neste momento, nossos colegas do Politécnico de Milão estão documentando, de maneira muito precisa, todo centímetro da superfície do pavimento e, nos próximos meses, procuraremos compreender o que existe sob o pavimento e alguns aspectos da estrutura arqueológica. Previmos projetar percursos para manter a possibilidade de percorrer as funções que se realizam no interior”.

A alegria das comunidades cristãs do Santo Sepulcro

“Esta segunda fase é fundamental, pois marca uma passagem ulterior à realização dos trabalhos de restauração do Santo Sepulcro, o que possibilitará outro amanhã, seja para os peregrinos, seja para nós, que celebramos no Santo Sepulcro, de entrar num ambiente que tenha dignidade estética que merece”, comentou o Custódio da Terra Santa, Fr. Francesco Patton. “É a igreja mais importante do mundo e tem valor simbólico extraordinário, pois é a única igreja do mundo em que gregos-ortodoxos, armênios e nós católicos celebramos – acrescentou o Custódio. O passo de hoje marca a continuação de uma cooperação entre nossas três comunidades, a qual não é apenas material, mas é sinal de ecumenismo, sinal extraordinário para toda a Igreja”.

“Hoje, estamos contentes: havíamos iniciado os trabalhos de restauração e estávamos um tanto preocupados porque desejávamos continuar – afirmou o Patriarca grego-ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III -. Não era possível ter iniciado as restaurações do Túmulo de Cristo, sem completá-las corretamente. Também nós temos nossos peritos na Universidade de Atenas e estamos prontos a oferecer nossa experiência e sei que cooperam já há tempo com a Universidade La Sapienza de Roma, em diversas áreas. É uma boa notícia que continuaremos os trabalhos de restauração do Santo Sepulcro e creio que isso seja um contributo importante das Igrejas cristãs, a fim de preservar e manter o especial státus cultural, religioso e político da Cidade Santa, Jerusalém”.  

Nesta segunda fase, os membros das três comunidades cristãs do Santo Sepulcro, tendo já colaborado nas restaurações, no passado, já sabem o que esperar, como sublinhou também o Padre Samuel Aghoian, superior armênio da Igreja do Santo Sepulcro, que estava presente no encontro de apresentação, representando o Patriarca Armênio-Ortodoxo. “A tumba de Cristo é importante apara o mundo inteiro – declarou o Padre Aghoian -. É um lugar histórico, um lugar religioso, um lugar maravilhoso. É um lugar que atrai por vários motivos, há uma espécie de mistério que não sei explicar, que tem um poder. Estamos contentes que temos a possibilidade de ocupar-nos deste Lugar Santo e apresentá-lo ao mundo na melhor maneira possível. Durante séculos, não foram feitas restaurações ou foram feitas parcialmente, sem envolver as três Igrejas em conjunto. Estou muito feliz que trabalhamos em conjunto, também com o Patriarcado Grego-Ortodoxo, e faremos o melhor que pudermos a fim de ajudar durante esses trabalhos!”. 

Beatrice Guarrera