Veste marrom e mochila no ombro. Mala "sempre pronta" para partir. É assim que Frei Francesco Patton, Custódio da Terra Santa, gosta de descrever seu modo de viver e caminhar neste mundo, que até 2016 era apenas um destino de peregrinação.
No livro-entrevista "Como uma peregrinação. Meus dias na Terra Santa", nas livrarias a partir de 10 de janeiro pelas Edições Terra Santa (com prefácio do Papa Francisco), e em uma longa entrevista com a mídia da Custódia, Frei Francesco relata sua experiência nesta terra e seus nove anos como Custódio, enquanto se prepara para concluir seu mandato.
Nascido nos vales do Trentino (Itália) e criado em uma família de profunda fé, o caminho do Frei Francisco foi marcado desde jovem por encontros com figuras como São Francisco de Assis e São Maximiliano Kolbe, que o inspiraram a viver "uma vocação de fraternidade universal". Sua nomeação como Custódio da Terra Santa em 2016 foi uma surpresa. "Eu nunca tinha morado na Terra Santa, só tinha participado de algumas peregrinações. No começo, eu tive medo de assumir esse serviço", conta ele. "No primeiro ano, vivi como um noviciado, tentando conhecer os frades, a realidade da Custódia e os desafios desta terra." O apoio dos frades foi fundamental: "Eles me acolheram como se eu sempre tivesse estado aqui e me ajudaram a entrar nessa realidade".
A primeira missão da Custódia é proteger os Lugares Santos. "Antes eu os conhecia no papel, agora eu os conheço diretamente", diz o Frei Francesco, enfatizando a importância de viver nos Lugares Santos, não apenas como Custódio, mas como crente: "Eu não precisava mais imaginar o Calvário ou o Sepulcro, como antes. Celebrar nos Lugares Santos significou muito para minha experiência pessoal de fé". Frei Francesco descobriu a Terra Santa como o lugar onde "a história e a geografia se encontram", um lugar que transformou sua espiritualidade: "Fiquei ainda mais convencido de quanto nós, cristãos, devemos nos agarrar à dimensão histórica do mistério da Encarnação". Entre os lugares que "permanecerão comigo", ele pensa nas basílicas de Nazaré, do Santo Sepulcro e da Natividade, mas também em Cafarnaum e Tabga, à beira do lago, "onde Jesus compartilhou a vida de pessoas simples, onde fez gestos de fraternidade, onde há belos diálogos, como aquele com Pedro". E o Monte Nebo "porque de lá se pode ver muito longe...".
O Custódio descreve seus anos na Terra Santa como uma peregrinação, uma metáfora da própria vida: "Acredito que seja importante recuperar o significado da vida como uma peregrinação: dentro da impermanência da vida terrena, temos uma grande perspectiva. Como São Francisco sempre lembrava a seus frades, "somos peregrinos e estrangeiros neste mundo" e São Paulo acrescenta que somos "concidadãos dos santos e membros da família de Deus" e esse é o nosso destino.
Durante os nove anos de sua peregrinação à Terra Santa, o Frei Francesco encontrou companheiros de viagem. Em primeiro lugar, os frades e aqueles que compartilhavam mais de perto as responsabilidades de governo com ele. Depois, alguns colaboradores da Custódia, entre eles a secretária Diana, mas também seu motorista Shibli e Lurdinha, que já o havia precedido no Céu. "Shibli era um irmão para mim. Foi ele quem me ensinou a celebrar a missa em árabe". Com Lurdinha, entre os responsáveis pelo Christian Media Center, "havia uma relação de fraternidade, amizade, compartilhando a missão de anunciar o Evangelho". Também foi significativa a relação com o Patriarca greco-ortodoxo Theophilos III, "uma relação fraterna de dois homens de fé chamados a dedicar suas vidas a Deus, que se encontram no terreno comum da fé e da missão".
"Minha experiência de governança sempre foi a de tomar decisões de forma participativa. Quanto mais conseguirmos envolver aqueles que fazem parte de nossa fraternidade, mais as decisões darão frutos, porque aqueles que se sentem envolvidos também se sentem responsáveis". Essa é a tradição da Ordem Franciscana: "Temos um instrumento para compartilhar escolhas chamado capítulo. A ideia básica é que, ao governar, a pessoa não se coloca em uma posição de poder, mas de serviço". É necessário que "os custódios estejam a serviço da Custódia, e não a Custódia a serviço dos custódios". Até porque, ele resume com uma piada, "os custódios morrem, mas a Custódia permanece".
Como em qualquer peregrinação, não faltaram privações, crises e momentos de dificuldade. "Na minha chegada, a guerra na Síria estava no auge. Eu estava muito preocupado com a segurança dos frades. Lembro-me de quando perguntei ao Frei Hanna Jallouf (agora vigário de Aleppo dos latinos) se ele queria deixar a Síria. Ele respondeu: "Se tiver de morrer, prefiro morrer ao lado de meu povo, não sou mercenário". Sua fé me ajudou a viver uma escolha difícil com mais serenidade". Com a Covid, surgiu um problema econômico significativo. No último ano e meio, a guerra em Gaza, com a dificuldade de não tomar partido, nem fazer julgamentos, mas olhar para o futuro.
Nesses nove anos, "vi uma involução gradual do mundo político israelense" com o surgimento de "uma ala direita que combina uma forma de fundamentalismo nacionalista com uma forma de fundamentalismo religioso". Como Custódia, "sentimos mais pressão, por exemplo, sobre a questão dos impostos, os Lugares Santos se viram frequentemente no centro de episódios ofensivos ou violentos, e os incidentes de cusparadas ou insultos contra os frades aumentaram". No entanto, "não creio que essas coisas devam nos colocar em crise: a experiência de oito séculos nos lembra que essa também é provavelmente uma estação que passará".
Em um contexto tão complexo, o curso é indicado pelo que São Francisco disse a seus frades e por seu próprio exemplo, no encontro com o sultão. "São Francisco nos ensina a encontrar o outro com confiança, vendo-o como um irmão, nunca como um inimigo". Essa é a contribuição que a Custódia também tenta fazer "por meio das escolas, onde educamos todos na aceitação mútua e em uma visão fraterna" em relação ao outro. "A fraternidade produz algo belo, a paz produz algo belo. Devemos cultivar mais esse sonho".
Como será o futuro da Custódia? "Eu o imagino em continuidade com esses oito séculos de presença na Terra Santa", respondeu o Frei Francesco. "Sempre teremos que lidar com uma realidade complexa. Cerca de dois mil mártires em oito séculos é um número eloquente. Enfrentamos epidemias, perseguições, mudanças de regime..."
"Uma das coisas que mais apreciei nesses anos é que os frades da Custódia ainda têm um senso de instituição: eles sabem que a Custódia não é a realidade do frei individual, mas uma missão da Ordem, confirmada pela Igreja com tarefas específicas. Quando há um senso de instituição, o indivíduo nunca prevalece sobre o "nós", e vivemos bem até mesmo os momentos de transição".
A missionariedade e a internacionalidade são os dois pilares indispensáveis: "É muito positivo que haja frades de vários países que entram diretamente na Custódia, mas creio que é necessário que a Custódia conserve sua identidade de ser 'a missão' da Ordem", sublinha Frei Francesco. De acordo com o Custódio, "a dimensão da internacionalidade será cada vez mais acentuada, e o peso do componente europeu diminuirá fortemente. Isso, por um lado, é um desafio e, por outro, uma possibilidade. Muito mais trabalho terá de ser feito na formação".
"Foram nove anos de intensidade em todos os aspectos: espiritual, humano, político e pastoral", diz o Frei Francesco. Quando lhe perguntam qual é o "sabor" desses nove anos, como um entusiasta da culinária, ele usa a imagem do kubbeh (Kibe), um prato típico do Oriente Médio, "que tem uma cobertura mais dura e crocante e um coração de carne".
Marinella Bandini